TRILOGIA DA ÁGUA é um conjunto de expressões poéticas em minha prática artística. Ondas, Corais e Mar Profundo são peças onde a memória da água aparece através dos sentidos e sensores do meu corpo. As três obras suscitam um ambiente de relações entre diversos recursos artísticos, aprendizados e experiências. São uma tríade de inflexões que formaram laços após minha participação na OCEAN / UNI, principalmente através do estudo das ideias de Astrida Neimanis.
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ONDAS é uma narrativa de laços em uma sequência de desenhos que retratam um fluxo imaterial. Estas imagens interligadas assemelham-se a uma criação biológica que eventualmente gera conchas, como na imagem final, pintada em papel de 9 metros de comprimento, utilizado para este trabalho.
Desenrolar parte do papel a cada dia transformou ONDAS em um diário do período de residência artística que passei em Lisboa, onde foi feito. Os movimentos do corpo no vai-e-vem da extensão do papel assemelhavam-se a ter sido atingida por ondas de memórias, uma após a outra. As intensidades da crista e da calha foram lembradas na instalação do trabalho com minha escrivaninha e cadeira, que serviram de cenário para explorar as ideais de continuidade e circularidade.
Atravessar o Oceano atlântico a partir do Brasil foi um convite para me reconectar com minhas raízes na Península Ibérica. A viagem invertida, feita um século antes pelas bisavós da minha família, ficou na minha memória como um sentido de direção que eu precisava reconhecer.
Essas histórias femininas com água construíram contos de cuidado e parentesco que traduzi como investigações de desenho e movimento de ondas. Instrumentos de artesanato, como fios de lã e agulhas de tricô, foram trazidos de volta a minha mente e ao meu corpo, e foram amalgamados com outras imagens de ciclos simbióticos, algas, rendas e conchas – elementos que se entrelaçam na concepção de um novo mundo.
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CORAIS é uma coleção de criaturas marinhas feitas em cerâmica fria. Elas começaram como modelos negativos de superfícies sobre as quais a massa de modelar era pressionada. Tocar a ‘pele’ do tecido tricotado à mão por mulheres, ou a arquitetura da cidade, e até os objetos do meu estúdio, significava estabelecer relação com a memória e os saberes ancestrais.
A união é um conceito básico em CORAIS. Quando a investigação se aproxima de recordações e geografias de ancestralidade, as peças finais assemelham-se a fósseis; não só pela morfologia, mas também pela ‘presença’ do elemento que evocam no vazio. É uma combinação de tempos vividos que me interessa como resíduo de um fluxo com o qual quero aprender.
Em trabalhos posteriores, a massa é moldada à mão, e não mais em contato com as superfícies. À medida que as ‘esculturas’ se tornam mais autônomas, outras questões que me interessam são adicionadas a essa ecologia marinha. E assim, ‘Epífitas’ originou-se da minha pesquisa de plantas socialmente amigáveis que apenas vivem juntas para companhia, sem serem parasitas.
‘Escutadores’ encarna o desejo de ouvir e aprender com o que se desconhece sobre o mar e os saberes ecológicos. ‘Auga’ é a minha textura coral poética, feita de pequenas peças combinadas para a construção de uma nova forma, cujo nome, aqui é a palavra água na língua mirandesa, do norte da fronteira entre Portugal e Espanha; lugar de forte fusão cultural. …
MAR PROFUNDO é um vídeo performativo e uma experiência de ativação de objetos. Ela dá luz às minhas tentativas de interagir com o desconhecido – neste caso, minhas criaturas inventadas e outros objetos em meu estúdio. No escuro da noite, iluminado pelo vago reflexo de um retroprojetor analógico, MAR PROFUNDO é uma metáfora da profundidade do oceano.
Sob a luz, os objetos tornam-se protagonistas de histórias não contadas que só podem ser descobertas pelas lentes do retroprojetor. O dispositivo torna-se uma lupa de novos caminhos que o trabalho pode explorar, sendo utilizado como principal fonte de investigação. Mediador de realidades, o retroprojetor faz da luz e da sombra, modelos negativos e positivos, e outros binômios, objetos de estudo e relação. Nesse sentido, o estúdio se torna um laboratório para mergulhos profundos no escuro.
No vídeo, as especulações sobre o fluxo de saberes ancestrais e as conexões com outras vidas na terra, como raízes de certas plantas, são questionadas a partir do encontro do meu corpo em cena com as criaturas projetas.
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RENATA PELEGRINI é uma artista brasileira que já morou nos EUA e Europa, e agora está radicada em São Paulo. Ingressou na TBA21_Academy OCEAN/ UNI em 2020. Usando uma abordagem investigativa que combina diferentes recursos artísticos, interesses científicos e experiência pessoal, ela desenvolve sua expressão artística de maneira híbrida à medida que os processos se desenrolam. Graduada em Letras e Educação pela Universidade de São Paulo como primeira formação, Renata trabalhou em camadas da comunicação por anos. Quando se diplomou em Artes Plásticas, a afinidade entre humanos e não-humanos se tornou um interesse que se aprofundou após sua residência artística no Hangar Lisboa, em Portugal, em 2018.