PROCESSOS
presente ativado
Praticar caligrafia é disciplinar o corpo e o pensamento para uma ação. Estudar os movimentos controlados dos alfabetos ocidentais e a fluidez do gesto oriental criaram em minha expressão a convivência de tensões. A escolha de ângulos, pressão e direção de instrumentos é fundamental para o traço no primeiro, enquanto a leveza, o rastro e o irretocável são a base para o gesto no segundo.
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No meu processo hoje, esses diferentes modos de ocupar o espaço, coabitam o mesmo contexto. Entrelaçar caligrafia, pintura e práticas de educação com outros saberes me interessa enquanto sugestão de narrativas a descobrir. Através do sensível imagino um lugar onde convergir seja possível. E por isso, as demandas de estar no mundo contemporâneo ativam fortemente a minha prática.
distorções da luz
Diante do retroprojetor procuro saberes e não-saberes na sua luz: a imagem que é distorcida, a luminosidade que reduz a visão, a cor que é subtraída. Que ambiguidade é essa que quer treinar as pupilas no escuro? Esse meio analógico tem sido um dos instrumentos na minha investigação em arte. Uso esse objeto para me aproximar do passar do tempo de uma maneira mais dinâmica.
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Ser obsoleto diante da tecnologia recente significa, no caso do meu retroprojetor, não estar apto a receber filtros que congelem para sempre a imagem como no momento de sua concepção. Nesse sentido, usá-lo é acessar um meio que envelhece, altera vigor e por esses motivos propõe entendimentos novos a cada abordagem. É um exercício de acolhimento em perceber aquilo que muda ao meu redor e que altera minha expressão. Interessa-me como proposição de um presente maleável.
oceanos internos
O que era um estranhamento, surgiu em ciclos. E o que eram experimentações difusas, encontraram ritmos temporais em meu processo. Como uma arqueologia feminina, laços, cirandas, conchas, gravetos escavam memórias e criam um fluxo de tecer um mundo ainda por vir.
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Imensurável e transbordante, chamaria essa expressão de Água Viva, se ela já não pertencesse a Clarice Lispector. Dessa autora, usaria a frase “Sou-me” para intensificar a existência desse oceano de acontecimentos no meu fazer. (…) E como transbordar um oceano interno para uma hospitalidade radical? Esperar o pós-humano? Recomeçar de outro planeta? Por que não construir uma nova gramática de habitar e acolher as demandas deste nosso mundo: ‘Sou-lhe’; que seja essa a arquitetura da nova era, do cuidar.
arqueologia
O processo de descobrir uma arquitetura física e imageticamente, por vestígios e memórias (reais ou fabricadas) sugeriu-me uma investigação tátil de um espaço como fio condutor inicial. Como construir sensores para dar sentido, pertencer, acolher e ser acolhida? Como se relacionar com esse espaço?
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Decidi coletar fósseis, construir mapas e topografias que me conduziram a leituras poéticas que se estruturaram em outras pesquisas. Essa investigação e o que surgiu artisticamente a partir do exercício chamei de série OLISIPO, nome dado originalmente à cidade de Lisboa pelos árabes.
io ti dedico
Diante de uma obra que me toma por completo tenho a simpatia de observá-la atentamente. Querer decifrá-la através da memória da vivência que me causou é um dos poucos exercícios que me prende em repetições de transcrição do sentir. Descubro que, na verdade, a cada retomada da experiência há uma obra nova se refazendo diante de mim, na memória e no papel (aqui, desenhos).
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A obra de Andreotta Calò foi um desses acontecimentos na Bienal de Veneza de 2017.