Pequenos vestígios de melancolia (FUNARTE)

Pequenos vestígios de melancolia (FUNARTE)
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Pequenos vestígios de melancolia (FUNARTE)

Expressar-me sobre o espaço dentro de um espaço emblemático de São Paulo: FUNARTE até 29 de setembro 2019 na capital Paulista


Pequenos vestígios de melancolia

Nos deparamos ao longo da história da arte com imagens que, de alguma maneira, perpassam os nossos sentidos e muitas vezes não conseguimos descrever. Como as imagens noturnas de seres solitários em bares e cafés de Edward Hopper ou os olhares perdidos e longínquos presentes em pinturas de Lucian Freud; imagens de paisagens melancólicas, resíduos ou ruínas, espaços deixados por uma ocupação recente ou distante cronologicamente, nos colocam como um narrador sem palavras do que aconteceu ali.

O recorte de Pequenos Vestígios de Melancolia compreende o trabalho de seis artistas, cujas obras de certo modo se valem de experiências residuais, seja na observação, seja na matéria. E esses vestígios, de alguma maneira se mesclam ao entorno deste prédio, ao interior desta sala, que passam por um lento processo de abandono, um lugar em que as celebrações são também carregadas pelo peso da incerteza e da dúvida de seu prosseguimento.

É possível nos enxergarmos nos espaços silenciosos de Renata Pelegrini ou estarmos envoltos à névoa de Pablo Ferreti. Na incerteza dos lugares capturados por Jordi Burch ou na paisagem deserta e atordoada de Kitty Paranaguá. Talvez sejamos nós os responsáveis pelo término do que a obra de Andrey Zignnatto começou e também os cúmplices da guerra que o artista traz de lembrança material. Na tentativa de orquestrar a maré, talvez sejamos o próprio Daniel Jablonski.

De quem é essa casa?
De quem é a noite que não deixa a luz aqui entrar?
Me diga quem é o dono dessa casa?
Não é minha.
Sonhei com outra, mais doce, mais clara com a vista dos lagos que barcos pintados atravessam;
Esta casa é estranha.
Suas sombras mentem
Olhe, me diga, por que minha chave encaixa na fechadura?
(Toni Morrison)

A estranha sensação de estar numa fenda, de um lugar que não reconhecemos, mas que sabemos estar inseridos, como a casa descrita pelo trecho de abertura de Home, romance de 2012 de Toni Morrison. Ouso dizer que sejam em lugares como este, um bom espaço para exercitarmos um pouco da nossa melancolia e adentrarmos com todo o corpo os espaços cedidos pelos artistas, afinal, nas fendas também acontecem os encontros.

Cadu Gonçalves